As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 53 / 174

- Temos de nos calar, Tom! Sabes isso perfeitamente. Aquele Injun é um diabo, que não se importaria mais de nos afogar a nós do que a dois gatos, se nós déssemos à língua a este respeito, e se ele conseguisse escapar à forca. Olha, Tom, o melhor é jurarmos um ao outro que nos calamos. Isto é o que temos de fazer!

- Também digo que é o melhor. Estende as mãos e jura que...

- Não. Assim não. Isso serve para coisas insignificantes, principalmente quando se trata de raparigas, que sempre nos atraiçoam e falam de mais se se vêem aflitas. Mas, tratando-se de uma coisa importante como esta, é preciso escrever. E com sangue.

Tom achou a ideia genial. Era profunda, tenebrosa e horrível; além disso, adaptava-se na perfeição à hora, às circunstâncias e ao ambiente. Apanhou do chão uma tabuinha e tirou do bolso um bocado de casca de quina, esperou que a Lua descobrisse e garatujou estas linhas, apertando a língua entre os dentes, o que demonstrava a dificuldade do trabalho:

- …A gente morra se disser alguma coisa.

Huck Finn e Tom Sawyer juram guardar segredo a este respeito. TS. HF.

Huckleberry estava pasmado com a linguagem sublime de Tom e a facilidade com que escrevia. Tirou da lapela um alfinete e ia picar um dedo quando Tom atalhou:

- Espera! Não faças isso. Os alfinetes são de latão e podem ter verdete.

- O que é verdete?

- É veneno, é o que é. Um dia engole um bocado, e verás!

Em vista disto, Tom desenrolou a linha de uma das suas agulhas e cada um dos rapazes picou o dedo, que espremeu até deitar uma gota de sangue.

Fizeram isto por várias vezes e Tom conseguiu assinar as suas iniciais, servindo-se da cabeça do dedo mínimo como se fosse uma pena. Depois ensinou Huckleberry a fazer um H e um F, e o juramento ficou completo. Enterraram a tábua junto da parede, não esquecendo certas cerimônias e rezas, e acharam-se tão obrigados a guardar silêncio como se tivessem feito um juramento sagrado.

Um vulto surgiu, devagar, do outro lado da casa arruinada, mas os rapazes não o viram.

- Tom - segredou Huckleberry -, achas que isto nos obriga a ficar calados para sempre, sempre?

- Pois, está claro que obriga. Aconteça o que acontecer, não podemos dizer nem uma palavra. Se dissermos morremos, não sabes?

- Sim, já calculava isso mesmo.





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