A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 3: III Pág. 45 / 508

o passeio, que este episódio interrompera, tão satisfeito e distraído, que nem apreensões lhe causava a ideia de trazer as botas humedecidas pelas ervas do caminho, ideia que, em outra ocasião, bastaria para o fazer doente.

Ladeava ele um campo, cingido de altas silvas, a procurar saída para a devesa, da qual um fundo valado o separava, quando lhe pareceu ouvir um rumor de vozes, como de alguém que conversasse perto dali.

Parou a certificar-se.

Não se enganara. Era do outro lado da sebe, e na devesa, para onde tentava passar, que se estava falando.

Espreitou por entre as folhas do silvado que o encobria, e viu uma cena que lhe moveu a curiosidade.

Um grupo de crianças e de mulheres do povo escutavam, em pleno ar e com religiosa atenção, a leitura que uma senhora jovem e elegante lhes fazia das cartas, que elas para esse fim lhe davam.

A senhora estava montada, não como romântica amazona, em hacaneia fogosa, mas modesta e simplesmente num digno exemplar daqueles pacíficos animais a que Sterne não duvidou dedicar algumas palavras de simpatia nas suas páginas mais humorísticas, e que Pelletan incluiu entre os colaboradores da humanidade na grande obra do progresso, ou, deixando a perífrase, em uma possante e bem aparelhada jumenta.

À roda as ouvintes encostavam-se com familiaridade às ancas e ao pescoço do imóvel quadrúpede.

A leitora segurava no colo a mais pequena e a mais nua das crianças do rancho.

Lia com voz agradável e sonora; e, graças à serenidade da manhã e ao sossego do lugar, ouviam-se distintas, à distância que ficava Henrique, as palavras, que ela pronunciava lentamente, como para as deixar penetrar bem na inteligência do auditório.

Henrique reconheceu muita desta pobre gente por a mesma que, momentos antes, vira na casa do correio.





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