A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 10: X Pág. 154 / 508

- Mas não será possível tirá-la dali? - perguntou Augusto, examinando o sítio.

- Para quê? Não podemos demorar-nos agora com isso - respondeu Madalena.

- Eu desço a cortar uma cana lá abaixo aos Moinhos e volto num momento - insistiu Augusto, dispondo-se a executar o que dizia.

Henrique notou, sorrindo:

- O alvitre é de homem prudente. Cuidei que os montanheses não eram de tão bom aviso.

E, animado pelo desejo de humilhar Augusto, por quem se sentia humilhado, e ao mesmo tempo cedendo à influência que sobre ele exercia a fascinadora figura de Madalena, Henrique arrojou-se a uma desnecessária imprudência.

Sem dar tempo a que o impedissem ou lhe fizessem qualquer reflexão, deixou-se escorregar no despenhadeiro, segurando-se com as mãos à borda do caminho; tenteou com os pés as fendas e as anfractuosidades da rocha, até conseguir firmá-los; segurou-se ora a uma raiz saliente, ora a um ramo mais tenaz; à força de vontade dominou a sua imperícia em exercícios desta ordem, e finalmente conseguiu, estendendo um braço, segurar a mantilha, que o vento arrojava ao precipício.

Depois, com dobradas dificuldades e porventura redobrados perigos, pôde, roçando-se como réptil e ferindo as mãos nas asperezas da rocha e nos espinhos das tojeiras, em que se firmava, pousar outra vez os pés em terra, sem aceitar a mão que Augusto lhe oferecia, e com gesto radiante entregou a mantilha a Madalena, fixando em Augusto um olhar de triunfo.

Os espectadores desta cena haviam-na presenciado sem soltar uma palavra, sem fazer um movimento, quase gelados de susto e de espanto.

Quando Henrique voltou com a mantilha, Augusto meneou a cabeça, murmurando:

- Que imprudência!

- Na verdade! - disse Madalena, ainda nervosa com a impressão que este incidente lhe causara - foi uma loucura; uma loucura imperdoável.





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