A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 15: XV Pág. 229 / 508

A quinta do Mosteiro era extensa e cerrada toda em volta por um sólido muro de alvenaria. Aqui e ali abriam-se nele diferentes portas que deitavam para os diversos lugares da aldeia. Neste vasto recinto havia pomares, lameiros, vinhedos e hortas, por onde Henrique errava à toa, já desanimado de ser bem sucedido no empenho.

De repente julgou ouvir, a pouca distância, o rodar de uma chave na fechadura. Parou por precaução e ficou-se a escutar. Logo depois ouviu o bater de uma porta e nada mais.

Então adiantou-se rapidamente; num momento deu com a porta, que ainda se conservava aberta.

Saiu por ela para a rua, mas achou-a deserta.

Dirigiu-se à esquina que dali avistava; dobrou-a, mas nada viu; as ruas eram solitárias, e uma só casa térrea que havia ao lado de um quintal estava discretamente fechada e silenciosa.

Desistindo de prosseguir na infrutuosa pesquisa, Henrique voltou para a porta.

- Esperemos aqui por esta donzela destemida que assim anda de noite a correr aventuras. Há-de ser curioso observar como ela fica, quando me encontrar por guarda-portão. Veremos se ainda depois disto durarão aqueles ares de soberania, com que me trata.

Um primo tímido e modesto!... E, sorrindo à lembrança da cena que se preparava, Henrique fechou a porta por dentro, e, acendendo um charuto, pôs-se a passear, aguardando o regresso da Morgadinha.

Para não perdermos muito tempo à espera também, aproveitá-lo-emos a inquirir de coisas e de pessoas, cujo conhecimento é útil à continuação da nossa história.

A pouca distância do extremo da quinta do Mosteiro e num sítio a que a abundância de vegetação e a suavidade de perspectiva davam o mais pitoresco aspecto, estava a casa e o quintal do ervanário, casa e quintal já condenados pelo lápis e tira-linhas dos engenheiros e oferecidos em sacrifício aos melhoramentos municipais e concelhios.





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