A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 15: XV Pág. 233 / 508

Quero-lhe assim, e não a desejaria perder. Amor? Não é; a tanto não chega... antes um culto, isso sim. É uma adoração como aquela em que de pequenos nos educam para com a Virgem. Que esperanças tenho? Nenhumas. Nem procuro alimentá-las. Quer que lhe diga? Vê-la; respirar estes ares que ela respira; atravessar estas devesas em que ela passeia; amimar as mesmas crianças que ela amima; socorrer, com o meu óbolo de pobre, a miséria sobre a qual ela espalha caridosa as dádivas da sua abençoada opulência... e, aí está; são as minhas aspirações; é o futuro que desejo, e com que me contento. Leu no meu coração, disse; e há muito que mo dá a entender; mas não viu claro de todo, confesse. Julgou talvez que haveria em volta deste sentimento um enxame de esperanças loucas, e delas se ria. Delas por certo foi que se riu; é muito generoso para se rir do mais. Enganou- se, porém, Tio Vicente; vê agora que se enganou, não é verdade? Essas esperanças não existem. Se existissem, bem vê que não estaria aqui. Não me teria impelido a ambição pelo caminho de realizá-las? Não se me têm oferecido os meios para tentá-lo? Mas, veja, quero-lhe tanto, e tanto me satisfaz esta felicidade a meu modo, que não arrisco um instante dela para tentar uma ventura maior.

O ervanário escutava silencioso, porém meneando a cabeça com ares de quem não punha demasiada fé naquelas palavras.

- Aos vinte anos?... - disse ele por fim - sentir o que dizes... ser feliz assim!... Deixa passar mais tempo; deixa tomar corpo à paixão e verás... verás depois...

- Tem dez anos - disse Augusto, sorrindo.

- Dez anos!

- É verdade. De criança a conheço, a paixão que diz; por isso confio nela. Tenho fé em que se não transviará.

- Dez anos - repetia o velho, admirado. - Porém.





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