A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 16: XVI Pág. 243 / 508

Fizeste bem em vir primeiro, filha. Se o não esperasse, talvez não soubesse conter-me. - Agradecido. - Uma noite é bastante para me preparar. Agora vai, deixa-me só; deixa-me... chorar...

E, cobrindo o rosto com as mãos, deixou-se cair, soluçando, sobre a mesa, junto da qual se achava.

Madalena correu para ele, comovida.

- Então. Tio Vicente, então! Sossegue! Amanhã meu pai virá. Fale-lhe, e eu espero que ainda será tempo de evitar... o mal.

- Pode ser, pode ser... - respondia o velho. - E, se não puder, Deus me acudirá, para não viver por muito tempo fora da casa em que nasci.

Madalena já não tinha que lhe dizer.

- Eu pedirei também, e Cristina, e todos pediremos, como já pedimos. Tenho esperança.

- Não, filha, não peças tu. Deixa-me só com teu pai amanhã. Disseste que tinhas vindo, sem ninguém saber? - continuou ele. - Olha que te não dêem pela falta. Vai, que é tempo.

- Mas...

- Vai, filha. Eu estou já tranquilo. Bem vês. Deus te recompense a bondade que tiveste. Vai. Queres que te acompanhe?

- Não é preciso. Vim pela porta das presas, que deixei aberta. São dois passos, e estou na quinta. Mas, Tio Vicente...

- Vai então; e Deus te abençoe.

E o velho pousou a mão sobre a cabeça de Madalena, que saiu comovida.

E ele caiu outra vez sobre a mesa, sem reter o pranto que lhe rebentava dos olhos.

É sombria a saudade naquelas idades, porque as esperanças são já muito débeis para lhe darem luz.

Saindo de casa do ervanário, perturbada ainda pelos sentimentos que ali a tinham agitado, a Morgadinha dirigiu-se à pressa para a porta da quinta por onde saíra. Ao impeli-la para entrar, a porta resistiu. Este facto surpreendeu e inquietou um pouco Madalena.

Quem poderia ter fechado a porta? E, se efectivamente estava fechada, tornava-se-lhe necessário um longo rodeio pela aldeia para chegar a outra, que pudesse encontrar aberta.





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