A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 2: II Pág. 29 / 508

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- Vê lá, menino...

- Não, tia, não quero.

- Há pessoas que não podem dormir às escuras - dizia a criada. - Eu, graças a Deus, durmo bem de qualquer forma.

- Pois sim, mas nem todos são como você. Olha, ó Henriquinho, hás-de ver se queres o travesseiro mais alto, ou...

- Muito agradecido, tia Doroteia, tudo deve estar bom - disse Henrique, procurando fugir às muitas reflexões, perguntas e conselhos, com que as duas o iam perseguindo até o quarto.

- Olha, ó menino, tu bebes água de noite?

- Às vezes.

- Você pôs-lhe água no quarto, Maria?

- Pus, sim, minha senhora; pois então? Já minha mãezinha dizia que antes sem luz do que sem água.

- Bem, então está bem. Então muito boa noite, menino.

- Boa noite, tia.

- Ai, é verdade. Hás-de ver se queres mais roupa na cama.

- Não hei-de querer, não, tia.

- Olha que está muito frio. Você quantos cobertores lhe deitou, ó Maria?

- Cinco, senhora.

- Cinco! - exclamou Henrique, quase horrorizado. - Cinco cobertores!

- É pouco?

- Pouco?! - É de morrer esmagado debaixo deles.

- Ai, quer não! Olha que está muito frio.

- Bem, bem, eu cá me arranjarei.

- Então, muito boa noite.

- Muito boa noite, tia.

E Henrique ia a fechar a porta.

- Olha... - disse ainda a tia.

Henrique parou.

- Não sei o que é que me esquece...

- Não há-de ser nada, tia; boa noite.

- Não esquecerá?... Eu se?... Enfim... Boa noite. Ai, é verdade... Sempre é bom ficar com lumes-prontos.

- Ai, sim; lá isso sempre é bom.

- Vês? Não que bem me parecia.

- Já lá estão, senhora - disse a criada de longe.

- Melhor; então muito boa noite nos dê Nosso Senhor, menino.

- Muito boa noite, tia.

E Henrique conseguiu fechar a porta.

Estava finalmente só.





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