A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 22: XXII Pág. 349 / 508

A importância política do conselheiro sofreu com isso.

Atacavam-no os partidários do governo, para declinarem deste, quanto possível, a responsabilidade do facto; atacavam-no os oposicionistas declarados, para com o mesmo golpe ferirem o ministério.

Os influentes políticos têm sempre no próprio partido, a que pertencem, invejosos que só almejam o primeiro pretexto para os derrubarem, embora caia com eles o partido a que se filiam.

Aquela carta foi, durante algum tempo, uma arma poderosa nas mãos dos tais; originou discussões e ataques violentos; e o conselheiro correu risco de se malquistar por causa dela com gregos e troianos.

Tudo isto se revelava ao espírito de Madalena e tudo isto a consternava. O seu muito amor filial fazia-lhe achar no facto uma significação dolorosa e triste, que só desilusões, como as de Henrique de Souselas, velhas desilusões de céptico impenitente, seriam capazes de atenuar.

O conselheiro expiava cruelmente o seu delito.

A leviandade e doblez do homem político pagava-a caro o homem de família.

É que a moral é uma. O homem não pode dividir-se; os pecados sociais de quem é virtuoso nos lares domésticos pagam-se, expiam- -se nesses mesmos lares. Os filhos que criou e educou segundo os preceitos da honra e da virtude serão mais tarde os seus próprios juízes, e que cruel julgamento para o coração de um pai! É justo que a pátria peça contas dos crimes de família e desconfie dos tribunos que não sabem ser pais, filhos, irmãos e esposos; é justo que a família exija que se seja fiel à pátria e às crenças que se professam, e castigue, pelo menos com lágrimas, como as de Madalena, as culpas do homem que julgou poder ter duas consciências: uma para responder por os actos cívicos, outra para os actos domésticos.





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