A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 24: XXIV Pág. 374 / 508

Notava-se apenas uma maior afluência de gente na taberna do Canada, um maior calor nos discursos dos tribunos, e a tendência à formação de magotes nas encruzilhadas e nos largos.

Quando, porém, se espalhou a notícia da morte de Ermelinda, aumentou a efervescência dos ânimos. Era chegado o momento.

A Morgadinha, que chorou com lágrimas sinceras a filha do Cancela, quis que ela fosse sepultada no mausoléu da casa do Mosteiro; cumprindo assim a lei, prestava-se também culto à afeição que todos sentiam pela criança, companheira de brinquedos de Ângelo, que lhe queria como a irmã.

Sabendo-se desta resolução, rebentou a indignação popular.

No dia seguinte ao da morte de Ermelinda, e naquele, no fim da tarde do qual devia realizar-se o enterro, havia na taberna do Canada extraordinário ajuntamento.

O Brasileiro, o Sr. Joãozinho das Perdizes, o latinista Pertunhas, alguns padres e lavradores, caseiros e camaradas do Sr. Joãozinho falavam, berravam e gesticulavam a um tempo.

O Morgado das Perdizes, cujo ânimo flutuava indeciso entre favorecer e guerrear o conselheiro, mas que, depois do despacho do professor que pedira e conseguira, como que sentia remorsos de o atraiçoar, achava-se agora muito abalado, porque na questão dos cemitérios era intolerante, não podendo levar à paciência que quisessem enterrar um homem, como ele, num lugar onde chovia e fazia sol, como num campo de centeio.

O Brasileiro, cônscio do valor do voto eleitoral do Sr. Joãozinho, não se cansava de o catequizar, usando para isso de todas as armas e atacando-o por todos os pontos vulneráveis que lhe conhecia.

Era assim, por exemplo, que, sabendo da simpatia e gratidão do morgado para com o ervanário, insistia muito sobre a dureza do coração do





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