A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 3: III Pág. 38 / 508

Henrique aproximou-se desta casa com alguma curiosidade, que cedo satisfez, vendo em uma tabuleta, suspensa no alto da janela, a seguinte pomposa inscrição: «Repartição do correio», e, como a confirmar o dístico, um corte feito na porta para a recepção das cartas.

Lembrando-se da conveniência de avisar o empregado do correio para lhe serem remetidas a Alvapenha as cartas que lhe viessem de Lisboa, Henrique entrou na repartição.

Consistia esta numa loja apenas, mobilada com um banco de pinho e dividida por um mostrador, para dentro do qual se alojava todo o pessoal do serviço, isto é, um homem por junto; e era este o Sr. Bento Pertunhas, personagem importante na terra, e a cuja inteligência e solicitude estavam confiadas mais do que uma função.

Além de servir, em interinidade permanente, como muitas vezes são as interinidades do nosso país, este cargo, dito por ele, de «director do correio», estava de posse S. S.ª de uma das cadeiras de latim e de latinidade, com que se procura em Portugal fomentar nos concelhos rurais o gosto pelas letras antigas; era ainda regente e director da filarmónica da terra, armador de igreja em dias festivos, ensaiador de autos e entremeses populares, e, quando Deus queria, autor de alguns também.

Vendo entrar Henrique nos seus domínios, o ilustre funcionário tirou cortesmente o seu boné de pele de lontra e ergueu-se da banca para cumprimentar tão honrosa visita. Nos cumprimentos que formulou disse o nome de Henrique.

Admirado por ser já conhecido, Henrique interrogou o latinista e, achando-o muito informado de tudo quanto lhe dizia respeito, convenceu-se de que estava na presença de um falador de assustar.

Com o fim de cortar a divagação em que o homem entrara a respeito de certa viagem que fizera a Lisboa, perguntou-lhe Henrique se o correio não chegara ainda.





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