A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 27: XXVII Pág. 410 / 508

- E queria que eu ficasse, Cristina? - perguntou Henrique, sob o domínio desta impressão.

Cristina não respondeu logo.

- Deixe-me acreditar que sim; é bastante generosa para isso, para não ver partir sem saudade o homem a quem salvou com os seus extremos de irmã. Esta ideia será a minha consolação; deixe-me partir com ela.

- Partir?... Mas... para que há-de partir?

- Então quer que me fique perpetuamente com aquela boa tia Doroteia, cuja vida plácida vim alterar com os meus hábitos cidadãos?

- Pois não lhe custaria ela mesma vê-lo partir?... E depois... que vai fazer para Lisboa? Adoecer outra vez, ou cismar que está doente, que é quase a mesma coisa.

- E dar-me-á sempre a sua amizade se eu ficar?

- Porque havia de lha negar?

- Tempo virá em que outros me disputarão a menor porção de afecto que me conceder, Cristina... e então... então é que eu ficarei mais só do que nunca... ou mais do que nunca sentirei que o estou.

- Anda só, porque quer... Não há tanta gente por esse mundo?

- Então a menina não sabe que se está só mesmo em companhia? Quem está só é a alma. Ai, a alma está só quase sempre!

- Porque quer.

- Porque desconfiou das companhias que se lhe ofereciam, e porque não obteve a que desejava. Além de que há almas tão tristes que intimidam as outras. E a minha é dessas. Ora diga, se eu lhe pedisse para fazer companhia à minha alma, a esta alma melancólica e sombria com que nasci, não hesitaria? Confesse.

Depois de um momento de silêncio e hesitação, Cristina respondeu:

- Se a companhia da minha fosse bastante para desfazer essa tristeza...

- Concedia-ma?

- E porque havia de negar-lha?

Henrique tomou-lhe a mão, apaixonado.

- Cristina, sabe que essas palavras podem fazer-me conceber loucuras? Se o meu coração é tão ousado.





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