A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 422 / 508

para Madalena:

- Diga-me uma coisa, prima Madalena: compreendendo tão bem as necessidades do coração dos outros, não pensou ainda nas do seu?

- E quem lhe disse que as tinha?

- Conceda-me também um pouco da sua admirável perspicácia, e não se julgue tão impenetrável, que não ofereça leitura aos olhos que a observam.

- Ah! Então leu?

- Uma página eloquente de sentimentos generosos, prima; uma página que eu só agora estou habilitado para a apreciar como merece; página, porém, tão recatada, que julgo que ainda a não leu bem o principal interessado nela. Cego, como eu fui.

- Não leria? - perguntou Madalena, sorrindo. - Está certo disso?

- E pode ser que lesse, pode; ou pelo menos que por inspiração a adivinhasse. Há casos desses.

Madalena tornou, mudando de tom:

- É ainda cedo para tratar de mim. Quando me resolver a isso, verá que sou um doente modelo. Não hesitarei ante a violência do remédio.

- E porque demora o tratamento?

- Pois parece-lhe que será urgente o caso?

- Prima Madalena, o que vejo é que há mais fortaleza da sua parte do que...

- Silêncio! - disse a Morgadinha, escutando.- Pareceu-me ouvir...

Neste momento a Brízida, que fora a uma sala imediata, voltou, dizendo em voz baixa:

- Parece-me que abriram as portas da capela. Devem ser eles.

- Então depressa - disse Madalena. - Abra-nos o coro; mas antes apaguemos as luzes. Teve uma feliz lembrança em prevenir- -se com essa lanterna de furta-fogo. Traga-a e siga-me; mas oculte a luz. Não faça barulho... Apagadas as luzes da sala, Madalena e Henrique entraram, por um corredor estreito, no coro da capela, donde a morgada costumava ouvir missa, enquanto mandava patentear ao povo o pavimento inferior.

Quando ali chegaram, com as





Os capítulos deste livro