A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 29: XXX Pág. 460 / 508

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- Mas é impossível! Cem votos!... Aí há engano. Não pode ser!

- Cento e cinco!

- Estás bem certo do que te disse teu amo?

- Ora se estou! E lá vi a cara do Brasileiro. Metia medo.

O conselheiro perdia-se em conjecturas. Agora parecia-lhe irrealizável aquilo que lhe anunciavam.

Não pôde mais tempo conter-se. Sobressaltado, ansioso, preparou- se para ir por seus próprios olhos averiguar o facto.

Mas, antes que o fizesse, uma onda popular, trazendo à frente a bandeira nacional e a filarmónica da terra, invadia o pátio e atordoava os ares com vivas, hinos e foguetes. À frente da música estava, radiante, mestre Pertunhas, embocando a trompa com mais arreganho que nunca! O conselheiro chegou à janela, e então é que as aclamações foram estrondosas.

A desafinação da banda chegou a roçar pelo sublime.

O conselheiro agradeceu ao povo aquela manifestação.

Passados momentos, entravam na sala Henrique, o Tapadas, e outros chefes eleitorais, e com eles o Pertunhas, sobraçando a trompa.

- Que quer dizer isto? - perguntou o conselheiro, abraçando-os.

- Cento e trinta e cinco votos a maior, Sr. Conselheiro, nem mais nem menos - respondeu o Tapadas, rindo às gargalhadas.

- Cento e trinta e cinco - repetiu o Pertunhas.

- Mas donde vieram?

- Ora essa é boa! De Pinchões.

- De Pinchões - repetiu o Pertunhas.

- Como?... Pois o Morgado?...

- Votou connosco como um homem. Ora pudera!

- É verdade... votou... connosco - dizia mestre Pertunhas.

- Mas não se viu ainda há pouco...

- Que estavam com metralha inimiga? - concluiu o Tapadas.

- Que tem lá isso? Mas vão lá à igreja e verão as buchas que estão pelo chão. É um destroço! Parece a loja de um farrapeiro.

- Mas explica-me isso, Tapadas.





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