A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 30: XXXI Pág. 469 / 508

Por isso, ao vê-lo ali, previu que pesava sobre ela uma suspeita, que era vítima de uma ilusão, e compreendeu que as aparências a podiam condenar.

De feito, Augusto chegara tarde aos Canaviais, porque só tarde o ervanário vencera a hesitação que experimentara ao dizer-lhe que fosse. Por isso só pôde reconhecer a voz e a figura da Morgadinha e de Henrique no curto diálogo que entre os dois se trocara, quando vieram examinar à janela o estado da noite.

As palavras que escutou prestavam-se a ser interpretadas de uma maneira cruel para o seu coração. Assim as entendeu Augusto, e, sem mais querer ver nem ouvir, retirou-se como um louco.

Foi nessa ocasião que Madalena o viu.

Quando voltou a casa, o ervanário, que, ainda acordado, o esperava, viu-o pálido, e com uma expressão singular no rosto.

- Então? - interrogou-o ansiosamente o velho.

- Tinha razão, Tio Vicente. Tem sido uma longa e má loucura a minha. Verei se me curo dela.

E, sentando-se, encostou a cabeça às mãos e permaneceu silencioso.

O velho não lhe perguntou o que se tinha passado.

Daí em diante foi em rápido progresso a prostração de ânimo em Augusto.

A doença do ervanário, que se exacerbou consideravelmente também, era o único motivo de uma força fictícia que ainda o sustentava.

Os seus desvelos pelo enfermo tomavam-lhe todos os instantes.

A única voz, eco da vida exterior que lhe chegava aos ouvidos, era a do cirurgião que tratava do ervanário.

Falador por índole e por cálculo profissional, o facultativo contava à cabeceira do leito as novidades do dia. Entre essas trouxe uma das que mais vogavam, que era a de que Henrique casava no Mosteiro com a Morgadinha.

Um equívoco dizer do Torcato, na presença dos criados do Mosteiro, uma das meias discrições do velho, mais perigosas do que a própria indiscrição, originara esta versão.





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