A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 487 / 508

XXXIII

Na manhã do dia seguinte estava toda a família de Madalena, na qual incluímos já D. Doroteia e Henrique, reunida em uma das salas do Mosteiro.

As duas primas, Madalena e Cristina, trabalhavam em costura; Ângelo e Henrique jogavam o xadrez; D. Doroteia e D. Vitória conversavam a respeito do preço de umas meadas de linho, que esta tinha dado a corar, e da péssima qualidade do fiado, efeito evidente, segundo D. Vitória, das criadas que tinha, que nem para fiar serviam. O conselheiro examinava distraído vários memoriais e cartas de empenho, que recebera já a pedir empregos e graças em paga dos serviços eleitorais, às vezes hipotéticos.

A cada passo, porém, Madalena suspendia o trabalho, para olhar para a porta da sala, principalmente quando nos imediatos aposentos se escutava algum rumor; ou trocava olhares com Ângelo, que não com menor frequência os desviava das pedras do tabuleiro para encontrar os da irmã.

Henrique também, de quando em quando, tinha que perguntar a Cristina, e esta, para lhe responder, julgava-se obrigada também a afastar os olhos da costura.

D. Vitória e D. Doroteia não era raro meterem-se na conversa dos outros, donde fácil transição achavam logo para voltarem aos seus assuntos favoritos: meadas e criados.

O conselheiro interrompia a cada momento a leitura com bocejos, ou fazia notar alguma mais exorbitante pretensão de tantas que examinava.

Era evidente que todas aquelas cabeças estavam pouco preocupadas com os assuntos aparentes das suas cogitações.

- Ó Lena! - dizia Cristina, que pela terceira vez chamava a prima, sem conseguir ser ouvida - que tens tu esta manhã? Que distracções são essas, que não respondes quando te chamam?

- Pois falaste-me?

- É o que eu digo! Ó menina, há que séculos te estou eu a perguntar em que tempo é que as laranjeiras têm flor?

- Ah! Criste! - acudiu o conselheiro, do lado, sorrindo.





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