A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 496 / 508

Julgo que não se enganou o primo Henrique. Também eu descobri esse afecto em Augusto. Nasceu-lhe no coração e não na cabeça, meu pai. Há muito que o sei e nunca a descoberta me causou o espanto que vejo nos outros. Digo mais: causou-me orgulho. Orgulho, sim, porque é natural senti-lo por ter inspirado sentimentos daquela ordem a um carácter generoso que, experimentado pelo infortúnio, saiu sempre da prova mais nobre e mais puro do que dantes.

O conselheiro, que ouvira a filha com impaciência, acudiu, em tom profundamente irritado:

- Bem, bem; deixemo-nos de loucuras e de poesia, Lena. Vê lá se me queres fazer acreditar que a vida da aldeia te estragou o natural bom-senso, até o ponto de tomares a sério fantasias e criancices.

- Não é fantasia nem criancice; é uma resolução de mulher - respondeu Madalena, com firmeza.

- Uma resolução de criança, que está na minha mão remediar - tornou o conselheiro, como quem desejava cortar o incidente.

Porém, para o génio de Madalena já não era possível recuar nem parar; replicou:

- Talvez não. E deixe-me então dizer-lhe tudo, meu pai.

Augusto nunca me revelou esse segredo do seu coração. Adivinhei--lho eu. Longe de procurar ser entendido, ocultava-se e fugia; ainda ontem estava resolvido a deixar a aldeia para sempre.

- Mas ficou - notou o conselheiro com ironia.

- Ficou - respondeu tranquilamente Madalena - porque eu lhe pedi que ficasse.

O conselheiro, ouvindo estas palavras, estremeceu de surpresa e fitou a filha com olhar severo e interrogador.

A Morgadinha prosseguiu com uma serenidade que ocultava um esforço interior.

- Ficou, porque eu lhe disse que o havia compreendido e que aceitava a afeição desinteressada e pura que ele guardava no coração; ficou,





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