O conselheiro, que ouvira a filha com impaciência, acudiu, em tom profundamente irritado:
- Bem, bem; deixemo-nos de loucuras e de poesia, Lena. Vê lá se me queres fazer acreditar que a vida da aldeia te estragou o natural bom-senso, até o ponto de tomares a sério fantasias e criancices.
- Não é fantasia nem criancice; é uma resolução de mulher - respondeu Madalena, com firmeza.
- Uma resolução de criança, que está na minha mão remediar - tornou o conselheiro, como quem desejava cortar o incidente.
Porém, para o génio de Madalena já não era possível recuar nem parar; replicou:
- Talvez não. E deixe-me então dizer-lhe tudo, meu pai.
Augusto nunca me revelou esse segredo do seu coração. Adivinhei--lho eu. Longe de procurar ser entendido, ocultava-se e fugia; ainda ontem estava resolvido a deixar a aldeia para sempre.
- Mas ficou - notou o conselheiro com ironia.
- Ficou - respondeu tranquilamente Madalena - porque eu lhe pedi que ficasse.
O conselheiro, ouvindo estas palavras, estremeceu de surpresa e fitou a filha com olhar severo e interrogador.
A Morgadinha prosseguiu com uma serenidade que ocultava um esforço interior.
- Ficou, porque eu lhe disse que o havia compreendido e que aceitava a afeição desinteressada e pura que ele guardava no coração; ficou,