- Aí temos outra! Não, filha; isso é que não. Para barulhos é que eu já não estou. Então, não.
- Está resolvido - disse a Morgadinha, para cortar pelas divagações da tia. - Aqui o sr. de Souselas - acrescentou, com maliciosa inflexão - fica desde já encarregado de transmitir à tia Doroteia o nosso plano e, ao mesmo tempo, oficialmente convidado.
- Aceito da melhor vontade.
- Não sei se o deverá dizer. É preciso que o avise de que naquela noite todos têm de trabalhar na cozinha; a ninguém se dispensa um minuto, pelo menos, de colaboração nos guisados. Por isso veja lá...
- Ó menina, tens coisas! - disse D. Vitória. - Deixe-a falar, primo.
- Não é deixe-a falar. Eu não dispenso ninguém.
- E eu prometo não me recusar. Prontifico-me a tornar detestáveis os pratos em que puser a mão. Que mais querem? Foi alegremente acolhida a promessa.
As crianças, familiarizadas já com Henrique, em quem tinham adivinhado um humor jovial, o que é sempre para elas um motivo de atracção, trepavam-lhe já aos joelhos e dirigiam-lhe perguntas sobre perguntas, dificultando-lhe as respostas.
- Havemos de jogar o rapa, não havemos?
- Havemos de jogar, havemos - respondeu Henrique.
- E o par-ou-pernão?
- Também; também havemos de jogar o par-ou-pernão.
- E?...
- Tudo, tudo; havemos de jogar tudo.
- Olhe: e sabe contar histórias?
- Sei também contar histórias.
- Então há-de contar-nos, que nós também lhe contamos a da Gata Borralheira, a da Maria de pau e a da Menina com as três estrelinhas na testa.
- Ora, o Sr. Henrique já as sabe - disse, fazendo-se sisuda, Mariana.
- Pois não sei, não, senhora; quem lhe disse que eu as sabia? Hei-de querer ouvir isso tudo.