A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 5: V Pág. 77 / 508

Naquela noite quanto mais barulho e desordem, melhor - aventurou-se a dizer Cristina, com ímpeto revolucionário.

- Aí temos outra! Não, filha; isso é que não. Para barulhos é que eu já não estou. Então, não.

- Está resolvido - disse a Morgadinha, para cortar pelas divagações da tia. - Aqui o sr. de Souselas - acrescentou, com maliciosa inflexão - fica desde já encarregado de transmitir à tia Doroteia o nosso plano e, ao mesmo tempo, oficialmente convidado.

- Aceito da melhor vontade.

- Não sei se o deverá dizer. É preciso que o avise de que naquela noite todos têm de trabalhar na cozinha; a ninguém se dispensa um minuto, pelo menos, de colaboração nos guisados. Por isso veja lá...

- Ó menina, tens coisas! - disse D. Vitória. - Deixe-a falar, primo.

- Não é deixe-a falar. Eu não dispenso ninguém.

- E eu prometo não me recusar. Prontifico-me a tornar detestáveis os pratos em que puser a mão. Que mais querem? Foi alegremente acolhida a promessa.

As crianças, familiarizadas já com Henrique, em quem tinham adivinhado um humor jovial, o que é sempre para elas um motivo de atracção, trepavam-lhe já aos joelhos e dirigiam-lhe perguntas sobre perguntas, dificultando-lhe as respostas.

- Havemos de jogar o rapa, não havemos?

- Havemos de jogar, havemos - respondeu Henrique.

- E o par-ou-pernão?

- Também; também havemos de jogar o par-ou-pernão.

- E?...

- Tudo, tudo; havemos de jogar tudo.

- Olhe: e sabe contar histórias?

- Sei também contar histórias.

- Então há-de contar-nos, que nós também lhe contamos a da Gata Borralheira, a da Maria de pau e a da Menina com as três estrelinhas na testa.

- Ora, o Sr. Henrique já as sabe - disse, fazendo-se sisuda, Mariana.

- Pois não sei, não, senhora; quem lhe disse que eu as sabia? Hei-de querer ouvir isso tudo.





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