- Ó meninos! - exclamou D. Vitória, que até ali estivera distraída a discutir com Madalena. - Então isso que é? Já para baixo.
Ai, se lhes dá confiança, está arranjado, primo.
- Deixe-os estar, minha senhora; este contacto de alegrias é salutar; pegam-se.
- E não o diga a brincar - disse Madalena -, que também confio nessas crianças para o curarem dos seus males.
- Então deveras empreendeu curar-me?
- Com toda a certeza.
- Nesse caso havemos de discutir devagar esse ponto de patologia.
- Não havemos, não, senhor. É mau médico o que sofre que o doente o interrogue sobre a moléstia e o tratamento. O médico deve ser obedecido com fé, e cega.
Cristina que, havia muito, defronte de Madalena, fazia esforços por lhe chamar a atenção, resolveu-se a falar-lhe.
- Lena - disse ela - que te parece a lembrança que teve há pouco a mamã?
- A das consoadas? Excelente.
- Não, menina, a do passeio à ermida.
- Ah! Excelente também. Marquemos já o dia.
- Quando queres?
- Depois de amanhã, que é quinta-feira.
- Seja.
- Que diz, primo Henrique?
- Quando quiserem, primas; agora mesmo...
- Mas, veja lá: atreve-se a fazer uma madrugada?
- Pois não viu hoje?
- Ai, pois não! Na aldeia não se chama a isso uma madrugada.
É preciso que se levante às horas a que se deitava na cidade.
- Que estás a dizer, Lena? - acudiu Cristina. - Deixe-a falar.
Basta que saiamos daqui às cinco horas.
- Esta inocente Cristina! Pois não é o mesmo que eu digo? Pergunta ao primo Henrique se tinha costume de se deitar mais cedo em Lisboa?
- Engana-se, prima Madalena; lembre-se de que, há perto de um ano, sou valetudinário.
- Ai, é verdade, que me tinha esquecido. O que vejo é que há por aqui muita indolência.