As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 25 / 174

Cerca das dez e meia, o sino da pequena igreja começou a tocar e pouco depois reuniram-se as pessoas que iam ouvir o sermão da manhã. As crianças vindas da aula de doutrina espalharam-se pela casa, ocupando lugares junto das famílias, para ficarem sob a sua vigilância. Veio também a tia Polly e os três pequenos sentaram-se junto dela; Tom do lado da nave, para ficar quanto possível longe da janela aberta e do que se passasse lá fora. Pouco a pouco a multidão encheu as naves. Veio o chefe do correio, velho e pobre, que tinha conhecido melhores dias; o corregedor e a mulher, porque, entre outras coisas desnecessárias, havia ali um corregedor; o juiz de paz; a viúva Douglas, loira, bonita, duns quarenta anos, generosa e boa pessoa, cuja casa na colina era o único palácio da cidade e a mais hospitaleira e larga quanto a festas de que S. Petersburgo se podia gabar; o major Ward, venerável e muito curvado, e Mrs. Ward; o advogado Riverson, pessoa em evidência naquelas redondezas; a seguir, a bela da aldeia, acompanhada por um grupo de raparigas vestidas de cambraia e cheias de fitas, prontas a fazer estragos nos corações; depois os rapazes empregados na cidade, que tinham estado no vestíbulo a chupar o castão das bengalas e formando um círculo de admiradores de cabelo empastado e risonhos, até que passou a última rapariga; e finalmente entrou o rapaz modelo, Willie Mufferson, tomando tanto cuidado com a mãe como se ela fosse de vidro. Levava sempre a mãe à igreja e era o orgulho de todas as velhotas. Não havia um rapaz que o não detestasse por ser tão bom e porque estavam constantemente a mostrá-lo como exemplo. Levava, como sempre ao domingo, o lenço branco a sair da algibeira na aba do casaco, a fingir que era por acaso. Tom não tinha lenço e considerava vaidosos aqueles que o tinham.

Quando a congregação se reuniu, o sino tocou outra vez a chamar os retardatários e tudo caiu num silêncio profundo, só interrompido pelos risos sufocantes e pelo sussurro de segredos no coro. Ouvia-se sempre este mesmo ciciar no coro durante o sermão. Houve uma vez uma igreja onde os cantores não eram mal educados mas não me lembro em que lugar. Foi isto há muitos anos e pouco me recordo do caso, mas parece-me que era no estrangeiro.

O pobre anunciou o hino e leu-o com muito gosto, de um modo especial, muito admirado em toda aquela região.





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