As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 48 / 174

Noutro tempo, em cada uma delas tinha sido pintado o nome da pessoa a quem era consagrada, mas, ainda mesmo que houvesse luz, ninguém conseguiria lê-las.

Um vento fraco perpassou nas árvores e Tom receou que fossem os espíritos dos mortos a lamentarem-se de os terem perturbado. Os rapazes falavam pouco e muito baixinho porque a solenidade da hora e do lugar lhes oprimia o espírito. Encontraram o montículo, feito de fresco, que procuravam e esconderam-se ambos por detrás dos troncos dos grandes ulmeiros agrupados a poucos pés da sepultura. Aí esperaram um espaço de tempo que lhes pareceu sem fim. O piar de um mocho muito ao longe era o único barulho que cortava o silêncio. Enervado, Tom sentiu que tinha de falar, por força, e segredou:

- Huck, parece-te que agrada aos mortos a nossa vinda aqui?

- Bem gostava eu de saber! - respondeu o outro. - Não achas que isto tem um ar solene? - Se tem!

Houve uma pausa durante a qual os rapazes estudaram o assunto, e Tom perguntou:

- Huck, pensas que Hoss Williams nos ouve falar?

- Está claro que ouve. Pelo menos o seu espírito ouve.

Passados momentos, Tom tornou:

- Tenho pena de não ter dito Mr. Williams, mas não foi por mal. Todos lhe chamavam Hoss.

- Uma pessoa não se pode pôr com esquisitices a respeito da maneira como fala dos mortos, Tom.

Isto foi dito em surdina, e logo em seguida calaram-se. Mas, instantes depois, Tom segurou o braço de Huckleberry e exclamou:

- Não faças bulha!

- Que é, Tom?

Agarraram-se um ao outro, com o coração a bater. - Caluda! Lá está outra vez. Não ouviste?

- Eu?...

- Agora. Não ouves?

- Oh! Meu Deus! Tom, lá vêm eles! Lá vêm eles, com certeza. Que havemos de fazer?

- Não sei. E se nos vêem?

- Oh! Tom, eles vêem no escuro tal e qual como os gatos. Já tenho pena de ter vindo.

- Não tenhas medo. Não me parece que nos façam mal. Nós estamos tão quietos... Se não fizermos barulho, talvez não dêem por nós. - Vou fazer a diligência, Tom, mas estou todo a tremer.

Com as cabeças muito juntas e quase sem respirar, os dois rapazes esperaram, enquanto o som abafado de vozes se aproximava, vindo do outro extremo do cemitério.

- Olha! Olha para ali! - segredou Tom. - Que é aquilo?

- Parece lume. Oh! Tom, é horrível!

Na escuridão distinguiam-se a custo uns vultos vagos que se aproximavam, balouçando uma lanterna acesa cuja luz punha no chão inúmeras manchas.





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