A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 8: VIII Pág. 119 / 508

E, momentos depois, saíram juntos.

Querendo poupar os leitores à sensaboria de assistir a uma lição de latim e a um ensaio da filarmónica, deixá-los-emos ambos, para voltarmos ao Mosteiro.

Ao fim da tarde, depois do jantar, estavam as duas primas sentadas ao parapeito do muro da quinta, donde, por sobre almargens e pomares vizinhos, a vista se espraiava em amplíssimo horizonte até umas nuvens, que pareciam limitá-lo.

D. Vitória saboreava, no seu quarto, as delícias da sesta habitual.

As crianças brincavam a alguma distância, e os risos e os clamores delas vinham como um chilrear de pássaros aos ouvidos das duas raparigas, que, a cada momento, se surpreendiam em meditativo silêncio.

A natureza estava sereníssima. No ocidente desenhavam-se estreitos e longos traços nebulosos, a que o Sol dava um colorido tão ardente, que, se um pintor paisagista o produzisse na paleta, hesitaria, ao passá-lo à tela, com receio de que o acoimassem de exagerado. O verde dos campos apresentava a gradação vigorosa que a luz de um formoso dia de Inverno costumava dar-lhe.

Cristina interrompeu o silêncio por fim.

- O que eu não sei - principiou ela - é como o primo Henrique de Souselas...

- Onze! - atalhou a Morgadinha, sem desviar os olhos do ponto da perspectiva, que fitava.

- Onze quê? - perguntou Cristina, erguendo os dela.

- Com esta são onze as vezes que, esta tarde, depois de um longo silêncio, abres a boca para me falares do primo Henrique de Souselas, uma vez que está decidido que seja primo.

Cristina fez um gesto de despeito e corou levemente.

- E então que queres tu dizer com isso?

- Eu? Nada. Digo só que são onze vezes com esta.

- Não sabia que era proibido falar-te no primo Henrique. Bem, nesse caso falaremos em outra coisa.





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