A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 8: VIII Pág. 121 / 508

Eu, que sou a vítima das tempestades que o teu génio pouco expansivo te junta no coração a todo o instante! Se alguma coisa te faz chorar, guardas as lágrimas para o meu quarto; se te irritam, vens desafogar as tuas colerazinhas sobre a minha cabeça. E pagas-me assim!

- És muito infeliz comigo. Pobre Lena!

- Vamos, vamos, Criste! Esquece o que eu disse há pouco. Não te posso ver assim. - E, tomando um tom natural, mas sob o qual transparecia ainda certa malícia, Madalena continuou: - Pois é verdade, dizias tu que não sabias por que o primo Henrique de Souselas... Cristina fez um movimento impaciente, como para levantar-se.

- Então que é isso? Não me aceitas a expiação? - perguntou Madalena, sorrindo.

- Não; não quero que se fale mais no Sr. Henrique de Souselas. Vejo que te não é agradável que as outras se ocupem dele. Sejam quais forem as razões que tens para isso...

- Bravo! Foi admirável de maldade o entono com que disseste esse: «Sejam quais forem as razões». E venham-me falar na candura desta criança!

- Eu não quero dizer...

- O que queres dizer, não sei; mas vejo que não és senhora tua quando se fala neste assunto.

- Que lembrança! - tornou Cristina, cada vez mais embaraçada.

- Pois imaginas deveras que eu?...

- E porque não?

- Lena!

- Não há nada mais natural.

- Se queres, juro-te...

- Ah! - atalhou a Morgadinha, pondo-lhe a mão nos lábios. - Isso não, que é mais sério. Jurar não te deixo eu. Conheço os escrúpulos da tua consciência, e não quero obrigar-te a remorsos.

«Juro!». E com que ousadia ias a pronunciar um juramento falso!

- Falso!

- Falso, sim; falso como os que o são. Olha, minha pobre Criste: queres então que te fale com toda a franqueza? Esta conversa trouxe-a eu de propósito para confirmar umas suspeitas que se me formaram e que vejo agora que eram fundadas.





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