A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 9: IX Pág. 134 / 508

A Morgadinha, percebendo a hesitação de Henrique, deu-lhe alento com lançar-lhe em rosto a sua pusilanimidade. Henrique encheu-se de brios e atravessou, com não menor denodo do que os outros, o riacho, por o passadiço de altas pedras, colocadas a pequena distância umas das outras, e que as águas a cada momento ameaçavam cobrir.

Atravessada a corrente, seguia-se escalar o monte; para isso tornava-se indispensável caminhar em continuados ziguezagues, aproveitando os cortes que a fouce do tempo conseguira abrir naquela massa granítica e os toscos degraus com que uma arte rudimentar procurara facilitar, por aquele lado, o acesso da ermida à piedade dos devotos.

As dificuldades para Henrique eram contínuas.

A cada momento os embaraços deste forneciam motivo para risos da parte de Madalena. Cristina não lhe podia levar a bem que se risse daquilo.

Para compensar as fadigas de tão trabalhosa ascensão havia, porém, a paisagem, que, a cada passo andado, a cada ângulo que se dobrava, aparecia mais surpreendente e maravilhosa.

Poucos peitos teriam força para reprimir um brado de admiração.

As névoas daquela manhã de Dezembro não eram bastantes para velarem a beleza do quadro.

À medida que os nossos quatro peregrinos iam subindo, ampliava-se-lhes mais e mais o horizonte; aveludava-se a relva da planície, parecia aplanarem-se os outeiros vizinhos, e os campos tomavam a aparência dos canteiros de um jardim.

Henrique não retinha o entusiasmo que aquele espectáculo lhe causava.

- É magnífico! é admirável! é soberbo! - dizia ele, a cada momento e quando não era inquietadoramente preocupado com os perigos do caminho.

O entusiasmo de Augusto não era menos vivo! Dir-se-ia que eram os montes a sua pátria, e que a melancolia nostálgica, que o oprimia na planície, se ia dissipando à medida que subia a encosta.





Os capítulos deste livro