A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 9: IX Pág. 140 / 508

- E, conversando e rindo, dirigiu-se para o lugar onde, sobre uma mesa de pedra e lousa e ao ar livre, estava disposto o almoço.

D. Vitória não era senhora que se saísse mal de empresas destas.

A alvura da toalha, a excelência da louça e o bem disposto e apurado das iguarias convidavam.

Não se concebe apetite refractário a um tal conjunto de circunstâncias.

O fastio, neste caso, seria um fastio mórbido, correspondente a lesão orgânica e, como tal, sem poesia.

Henrique e Augusto principalmente fizeram, como era natural, justiça à cozinha do Mosteiro.

Henrique, que parecia haver esquecido as suas mil e uma doenças, conversou animada e espirituosamente.

Contaram-se anedotas; Augusto aplaudiu as de Henrique; este riu com vontade das que ouviu a Augusto.

A Morgadinha, por sua própria mão, preparou o chá.

Nestas alturas do almoço encetou novamente Henrique o tiroteio de amabilidades, de que por muito tempo não sabia prescindir.

Dir-se-ia ser este o sinal para se perturbar a santa harmonia do congresso. Parecia que todos os outros, mais ou menos, se sentiam contrariados.

Henrique ficara sentado junto da parede da capela. Inclinando- -se sobre o espaldar da cadeira a saborear um charuto havano, descobriu umas letras escritas na parede, exactamente por cima da cabeça.

- Bravo! - exclamou, depois de as ler para si - não imaginava que havia poetas na aldeia! Querem ouvir? E leu: Se estás mais perto do Céu Nestas alturas da serra, Ai, porque tens, peito meu, Inda saudades da terra? Em vez de erguer os olhares À luz deste firmamento, Desço-os à sombra dos lares, Onde tenho o pensamento.

- É pena que a chuva apagasse o resto. Quem é o bardo, prima?

- Não sei; da aldeia decerto que não é - respondeu Madalena, com indiferença.





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