A propriedade da tia de Henrique era um genuíno tipo de casa rústica, à moda do Minho.
Ao subir as escadas, e apesar de mal poder divisar os objectos à escassa luz que os alumiava, recebeu Henrique a primeira impressão agradável de toda aquela mal estreada excursão.
Estas escadas, esta varanda de pedra e este alpendre avivaram nele memórias, quase apagadas. Lembrava-se agora vagamente de ter brincado ali, a cavalo nesse mesmo parapeito, então, como agora, enfeitado de uma formidável coorte de abóboras-meninas, vítimas votadas às festas do próximo Natal.
A um canto do patamar deparou-se-lhe ainda um grande vaso de louça, que ele, havia vinte e tantos anos, conhecera, e ao qual tinha a ideia vaga de haver quebrado uma asa; abaixou-se no intento de se certificar, e viu que de facto ainda lhe faltava a asa, sendo este o único estrago que após tanto tempo o velho utensílio sofrera.
- É admirável! - não pôde deixar de exclamar Henrique ao fazer a descoberta, vendo que em oito dias operava maior reforma nos seus aposentos em Lisboa do que num quarto de século se realizava em Alvapenha.
O hortelão bateu à porta e disse para dentro que era o sobrinho da senhora que chegava.