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Capítulo 2: II

Página 18

Seguiu-se um mexer de cadeiras, um trocar de vozes, um arrastar de passos; moveu-se a chave na fechadura; abriram-se as portas, e no limiar apareceu de braços abertos a tia Doroteia, e, por trás dela, elevando a luz acima do ombro da ama, a criada Maria de Jesus, a que, havia trinta anos, lhe era companheira e interessada em alegrias e pesares. Já Henrique lhe andara ao colo no tempo em que estivera criança na quinta.

Diante da figura esbelta, do tipo varonil e do comprido bigode de Henrique, a Sra. Doroteia reprimiu as suas expansões e quase recuou.

Nunca mais vira Henrique desde que este, aos cinco anos, deixara Alvapenha, e dir-se-ia que esperava ainda encontrar os mesmos cabelos loiros e anelados e o mesmo rosto menineiro da travessa criança de outros tempos, em vez do homem feito, em que os vinte e tantos anos volvidos o tinham transformado.

Há destas ilusões na gente.

A mais segura razão não está precavida contra elas; a infundada surpresa invade-nos de súbito, e os lábios não podem prender a exclamação que a denuncia.

- Pois na verdade tu és o Henriquinho?! - disse espantada a boa senhora.

- Eu julgo que sim, tia Doroteia.

- Tu! Ai como estás um homem! Ó Maria de Jesus, você não quer ver isto?!

- Parece mesmo um soldado! - disse a criada, igualmente estupefacta.

- Credo, mulher! Santíssima Trindade! Você que está a dizer? Nossa Senhora nos livre de tal! - exclamou a ama, em cujo conceito o soldado estabelecia a transição do homem para o diabo.

No entretanto Henrique de Souselas abraçava a tia, que havia tanto tempo que não vira, e ela correspondia-lhe, beijando-o com todo o carinho e chorando.

Chorando porquê? Porquê? Pela muita bondade que tinha naquela alma. A bondade é um rico manancial, que brota lágrimas ao toque da menor comoção.

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 18

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506