A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 11: XI Pág. 171 / 508

- E o conselheiro não se há-de opor à expropriação da casa do ervanário, porque pelos modos eles não andam muito correntes - lembrou um lavrador.

- É verdade; porque seria aquilo? - perguntou outro.

- Eles, em tempo, eram muito um do outro; e são até aparentados - explicou o Brasileiro - e o velho ainda hoje é tratado com familiaridade pela gente do Mosteiro; mas julgo que o homem, com aquele génio esquisito que tem, disse algumas verdades ao conselheiro, por ocasião de umas eleições, quando ele pôs as autoridades a trabalhar por si, e o velho entendia que as coisas não iam bem assim.

- Pois, com os diabos, o Vicente ervanário vale mais do que vinte conselheiros e toda a família - exclamou o Sr. Joãozinho, batendo outra punhada - e queira ele, que o tal senhor não põe mais o pé nas Câmaras, mandado cá pela terra.

- Eu gosto de os ouvir - disse o padre. - Falam assim, mas, em chegando a ocasião, vão todos votar nele como carneiros.

O Brasileiro encolheu os ombros e sorriu, como confirmando o dito.

- Pois havemos de ver o que será! - berrou o Sr. Joãozinho. - Isso é consoante cá umas coisas.

- A falar a verdade - disse o Pertunhas - não tem pago muito bem ao círculo o nomeá-lo há tantos anos seu deputado; só essa teima agora em querer obrigar o povo a enterrar-se no cemitério!

- Essa, a falar verdade! - disse um lavrador.

- Quero ver se lá me hão-de enterrar a mim! - disse ameaçadoramente o Sr. Joãozinho, como se esperasse, ainda depois da morte, impor as suas vontades à força de murros e de pragas.

- Deram-lhe para dizer que fazia mal enterrar nas igrejas. É moda e acabou-se. Dantes enterrava-se lá toda a gente, e não havia mais doenças do que agora - isto dizia o padre.

- Os Romanos tinham as suas catacumbas - ponderou o mestre da latinidade, forçando as suas reminiscências romanas.





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