A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 11: XI Pág. 173 / 508

- A falar a verdade, os vínculos... - murmurou o Sr. Joãozinho, que por vezes tropeçara nas disposições da antiga lei vincular, ao caminhar na estrada da dissipação; porém, recordando-se de um irmão que tinha, casado e pai de muitos filhos, que mal conseguia sustentar à custa de muito trabalho, a ideia da abolição dos morgados não lhe sorriu e exclamou com nova punhada: - Acabem lá com os morgados quando quiserem, que o que eu lhes digo é que tem de se haver comigo quem quiser tirar-me um palmo de terra! O padre-cura continuou a tratar pouco cristãmente o conselheiro.

O pai de Madalena militara sempre, como já dissemos, nas fileiras do partido mais liberal, e por isso era-lhe em geral pouco afeiçoada a maioria do clero, que, entre nós, não esposa ardentemente aquelas ideias.

No princípio da sua carreira parlamentar, cedendo ao impulso do entusiasmo juvenil, o conselheiro desenrolara desassombradamente a bandeira do partido Progressista e pronunciara os mais absolutos artigos daquele credo político; liberdade era então o seu mote favorito: a liberdade do comércio, do ensino, da imprensa e dos cultos; as reformas consequentes nos códigos, a desamortização e desvinculação da propriedade, tudo advogara com entusiasmo, no tempo em que estas palavras soavam ainda como heresias aos ouvidos habituados à letra de outro catecismo.

Com o tempo arrefeceu, porém, esse entusiasmo; dissipou-se- -lhe com o fogo da mocidade. Conquanto liberal ainda de convicção, ensinou-lhe a política prática a rebuçar em fórmulas mais ordeiras os seus princípios doutrinários, a contemporizar, e até, quando as conveniências, infelizmente nem sempre as públicas, o pediam, a dar alguns passos de retrocesso e a transigir com o partido oposto.

Se o fizessem ministro, não se arrojaria a transformar em projecto de lei nenhuma daquelas medidas por que pugnara nos seus primeiros discursos, e que tantas malquerenças lhe acarretaram então.





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