A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 12: XII Pág. 185 / 508

Dizendo isto, fez uma curta pausa na conversação.

Rompendo de novo o silêncio, o conselheiro prosseguiu:

- Mas falava aí de princípios, que se defendem com desassombro e através de tudo. Não sei se quis ser lisonjeiro e disse o que não sentia, ou mais do que o que sentia. Em todo o caso, eu, aqui no Mosteiro, acho-me muito às ordens da minha consciência, a qual não me deixa calar hipocritamente. Estou muito longe de ser esse ideal do homem político a que aludiu. Humildemente o confesso; até porque, se quisesse sê-lo, arriscar-me-ia a achar-me só; não teria partido. Porque, qual é o que vê aí nas condições de constância de opiniões que disse? Tenho crenças políticas, é verdade; esposo no coração certos princípios que quisera ver realizados, mas não combato por eles a todo o transe, nem por eles afrontaria o suplício; antes, por vezes, entro em transacções, que são a completa negação da divisa das minhas bandeiras. E este pecado não sou eu só que o cometo; é um pecado venial da nossa época. As grandes ideias, que definem e estremam os campos na política, havemo-las eu e os mais calcado muitas vezes aos pés, para sustentar umas insignificantes fórmulas, um interesse mesquinho, um capricho pessoal. A política desce muitas vezes a isto. E ninguém é isento de culpa neste mal. Para ele concorrem os mesmos que de fora nos julgam severamente. Há muitos destes pecados na minha carreira pública. E, quer que lhe diga: sabe quando vejo claro neles? Quando me persuado de que não são de todo desculpáveis? Quando... - porque o não direi? - quando sinto remorsos de os ter cometido? É aqui, é perante a boa-fé, a sinceridade, a candura desta família, que me tem amor, e que me considera um homem perfeito, superior, impecável. É perante os generosos sentimentos da minha Lena, e o carácter nascente daquela criança - e indicava Ângelo com o gesto.





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