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Capítulo 12: XII

Página 186
- Parece-me que tenho neles juízes inflexíveis, e escondo por isso a minha face política dos seus olhos penetrantes. Há muita coisa nela, para que o mundo é já indulgente, mas que receio que eles me não perdoassem.

Reparando para o olhar de estranheza com que Henrique lhe seguia esta efusão de sinceridade, o conselheiro acrescentou, sorrindo:

- Estou a ver que não esperava estas palavras da minha boca: esta confissão de pecador contrito.

- Confesso que não.

- Então que quer? Surpreendeu-me aqui com o coração aberto. Já agora deixe-me continuar. Uma das ideias que mais me atormentam sabe qual é? Vê aquela criança que ali está? Ângelo? É uma inteligência que, de dia para dia, vejo formar-se com um vigor de vida, que me espanta. Não é a vaidade paterna que me cega, pode acreditar. Conhecendo-o de perto, há-de dar-me razão. Mas o que há além disso nele é um senso profundamente moral, raro até em idades menos tenras. Pois bem, quando penso nele por algum tempo - e conjectura que não serão poucas as vezes em que o faço... - quando penso nele e no futuro, sobressalto-me. De um lado, seduz-me abrir-lhe a carreira política, onde há grandes triunfos a embriagar as inteligências e onde pressinto que a dele terá o direito, se não o dever, de procurar um lugar; mas, se me lembro de que na atmosfera daquelas regiões não duram muito estas primitivas canduras da alma, tão adoráveis e consoladoras, quando me lembro de que Ângelo será um dia... o que eu já hoje sou, um pouco desiludido, um pouco céptico... com franqueza o digo, hesito em impeli-lo ao redemoinho e pergunto a mim mesmo se mais não valeria dizer-lhe: Ângelo, vive obscuro e tranquilo neste retiro do Mosteiro, conserva aqui a ideal pureza da tua alma e procura a felicidade nas satisfações do coração.

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pág. 186 (Capítulo 12)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 186

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506