A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 12: XII Pág. 188 / 508

- Nunca esperei encontrá-lo tão desiludido. Eu, que me não tenho ainda assim por demasiado crente, creio que quem entrar na política sob a égide de uma convicção profunda, pode... O conselheiro interrompeu-o.

- Sabe a coragem mais admirável? A de que menos exemplos existem? É aquela de que nos dá uma eloquente mostra a história do aldeão do Danúbio. Sair um homem de um canto retirado da província, um pouco montanhês, e, escudado só da sua boa-fé, achar-se de repente no meio de um círculo luzido, ilustrado, elegante, novo para ele, e ousar repetir aí aquelas falas rudes que tanto deliciavam o auditório da sua terra; ver o sorriso nos homens, que a seu pesar respeita, e poder ressalvar as suas crenças daqueles sorrisos; sentir o ridículo a seu lado, e ousar fitá-lo; ferirem-lhe os ouvidos, a cada passo, as vozes sedutoras da moral elegante e fácil, que hoje domina, e conservar-se fiel à austera e rude moral que lhe falava entre o rumorejar das folhas da sua aldeia nas longas horas de vigília e de estudo, que lá teve; cair embora, mas cair fiel à consciência, como um leal cavaleiro da Idade Média caía pela dama de quem trazia a divisa: é uma espécie de luta, para que não abundam lidadores. E nem sempre se deve lançar o labéu de traidores aos que mentem à sua antiga profissão de fé. A maioria cede com boas intenções. O perigo está em chegar a persuadir-se de que as suas convicções eram sonhos, em perder o amor às utopias. Eu confesso que só quando aqui estou é que sinto avivar, debilmente, o amor que noutro tempo lhes tive.

Nisto anunciou-se a visita do Sr. Tapadas, fazendeiro opulento e um dos influentes eleitorais da localidade, criatura em corpo e alma do conselheiro, e tão visto em demandas e subtilezas de processos, como o mais rábula dos letrados.





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