A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 2: II Pág. 21 / 508

Brás, para que nos proteja da garganta; outro a S. Vicente, por causa das bexigas, etc., etc. Seguia-se um Padre-Nosso por todos os que andam sobre as águas do mar; outro por os pobres sem abrigo nem alimento; outro por os órfãos; outro pelos doentes; um pelos vivos; outro pelos mortos; um pelos justos; outro pelas almas do Purgatório, não hesitando até a sua caridade em transpor as portas do Inferno e pedir também a remissão dos condenados. E, ainda depois desta minuciosa e longa enumeração, um último Padre-Nosso fechava a primeira série, compreendendo todos os não contemplados por esquecidos, ou por não terem lugar na classificação.

Compunha a segunda série a menção especial de cada uma das pessoas falecidas das suas relações: parentes, amigos e conhecidos, por cujo «eterno descanso entre os resplendores da luz perpétua» oravam com verdadeira compunção. Nesta falange ia também D. João VI, por quem, havia quarenta anos, se costumara a rezar D. Doroteia, e não era ela mulher que rompesse com hábitos semi-seculares. Era esse talvez o único Padre-Nosso que a alma do monarca recebia no Céu, com procedência do seu antigo Reino.

Enquanto às qualidades físicas, a imaginação dos leitores pintar-lhas-á melhor do que a minha descrição. Forçosamente conheceram uma destas boas velhas, para quem nos sentimos atraídos; a quem se estima e com quem se brinca ao mesmo tempo; que nos podem inspirar sacrifícios e simultaneamente nos tentam a travessuras; a quem mistificamos agora e logo beijamos respeitosamente a mão; contra quem não reprimimos impaciências, escutando depois submissos os seus nunca terminados sermões.

Ora estas velhas assim têm quase sempre um tipo uniforme que é o reflexo exterior da bondade do coração; esse era o tipo da





Os capítulos deste livro