A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 14: XIV Pág. 213 / 508

Ia indizível animação na cozinha, quando Henrique aí entrou com o pai de Madalena. Era um barafustar de criadas, um chiar de sertãs, um borbulhar de caçarolas e tachos, um tinir de pratos, um tilintar de cristais no meio de uma babel de ordens, de perguntas, de reclamações, de conselhos, todos atinentes a negócios culinários. E D. Vitória ralhava, e a senhora de Alvapenha promulgava preceitos, e Maria de Jesus desdenhava do serviço das colegas, e Madalena e Cristina riam de todos e de tudo, e Ângelo a todos impacientava.

Não se imagina! A chegada do conselheiro e do seu hóspede veio exacerbar a desordem. Ergueram-se risos e exclamações, as quais ainda assim eram subjugadas pelos reparos e censuras de D. Vitória, a qual dizia para o conselheiro:

- Sempre o mano tem coisas! Olhem agora para o que lhe havia de dar! Vão lá para dentro, vão. Não venham atrapalhar-nos mais ainda do que estamos. E o primo Henrique também! Ora esta...!

- Não se aflija, mana. Nós não podíamos resignar-nos a ficar alheios à tarefa principal do dia. E até porque é necessário dar andamento a isto para chegarmos a tempo da missa do galo.

- Pois querem ir à missa do galo?

- Está de ver que sim.

- Eu também vou - disse Cristina.

- E eu - acudiu Madalena.

- Mais um, que irá também - disse Henrique.

- E eu, e eu - acrescentaram diferentes vozes.

- Ai, minhas encomendas! - suspirou D. Vitória. - Então por que me não disseram isso logo? Agora como há-de ser? E saiu em direcção à sala da ceia a dispor as coisas.

É preciso que se diga que D. Vitória vivia na cândida ilusão de que era ela quem fazia tudo em casa, enquanto que manda a verdade declarar que nunca mais regularmente corriam as coisas domésticas do que quando dormia esta aliás excelente senhora.





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