A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 14: XIV Pág. 212 / 508

- Apoiado! - respondeu Henrique. - Aceito e comprometo-me a cumprir a proposta.

Henrique possuía em alto grau o talento de se tornar agradável.

Compreendendo que eram sinceros os desejos do conselheiro, tão frio e pueril conseguiu mostrar-se, que todos o tratavam como membro da família, e ao próprio conselheiro parecia já impossível que ainda fossem tão recentes as suas relações mais íntimas com aquele rapaz.

- Ânimo, Sr. Conselheiro - dizia-lhe Henrique, no momento em que eles ambos estavam empenhados a jogar a cabra-cega com os pequenos. - Coragem! que temos gloriosos exemplos a animar- -nos; até entre outros, o do meu homónimo Henrique IV. É sabido o episódio recordado por uma gravura célebre.

O conselheiro secundava-o, rindo. Graças a estes jogos a sala estava dentro em pouco em desordem: os móveis fora da sua posição, o chão alastrado de cascas de pinhões, que estalavam sob os passos, os tapetes desviados, as cortinas soltas.

Já por noite avançada, disse o conselheiro para Henrique:

- Falta-nos ainda um artigo importante do ritual destas festas; o principal. É dirigir uma visita à cozinha. Porque a obra principal desta noite é fazer uma ceia e não comê-la. Por isso convido-o a acompanhar-me lá.

- Com tanto mais vontade, que estou há muitos dias comprometido a isso com as senhoras.

- Neste caso é tempo.

E ambos tomaram pelo corredor que conduzia à cozinha.

Escusado parece dizer que a turba infantil os seguiu tumultuariamente, anunciando-os ao longe com risadas e gritos de alegria.

A cozinha do Mosteiro era uma digna cozinha de frades. Ocupava um vasto recinto rectangular, rasgado em amplas janelas e fornecido de bancas monumentais, condizendo com a estupenda chaminé, que parecia ainda saudosa dos odoríferos vapores que outrora espalhavam os tachos e as grelhas monásticas.





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