De vez em quando a recordação das cenas nocturnas da véspera desviava-lhe para outra ordem de reflexões o pensamento; acudiam- lhe todos aqueles incidentes à memória, mas vagos e confusos, como se tivessem sido sonhados; chegava quase a duvidar da realidade deles.
Agora estava experimentando certa curiosidade e também receio de saber como seria recebido pela Morgadinha e que posição deveria tomar na presença dela.
Formava a este respeito várias conjecturas, sem se fixar em nenhuma.
Destas cogitações veio por fim arrancá-lo o toque da campainha anunciando o almoço.
- Vamos - disse Henrique -; preparemo-nos para o primeiro embate. Apuremos a vista para num relance julgar do estado das coisas, e por ele regular o meu plano de táctica.
E, depois de uma rápida consulta ao toucador, desceu para a sala do almoço.
Já ali encontrou reunida toda a família do Mosteiro e a Morgadinha presidindo à mesa e preparando o chá.
Todos saudaram Henrique e a um tempo se informaram da maneira por que ele tinha passado a noite.
Henrique respondeu que a tinha dormido deliciosamente, e, falando, desviava o olhar para Madalena, que o encontrou do modo mais natural, sem timidez nem audácia.
Seguiram-se os cumprimentos em particular, chegando, portanto, a vez de cumprimentar Madalena.
- Bons dias, prima Madalena - disse Henrique, estendendo- -lhe a mão e fixando-a com olhar investigador.
Madalena respondeu-lhe ao cumprimento, com sorriso que nada tinha de afectado nem de constrangido.
- Bons dias, primo Henrique. Devem-lhe parecer horrorosos estes nossos hábitos matinais. Foi uma indiscrição mandar tocar a campainha. Esqueci-me de prevenir que lhe respeitassem a indolência cidadã.
- Eu é que não consentia - disse o conselheiro.