A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 17: XVII Pág. 262 / 508

Resolvemos transplantá-la.

Deitámos mãos à obra essa manhã, e, no fim de alguns segundos, estava a faia mudada. Trouxemo-la para onde a deixassem em paz os hortelões, e para junto da água que ela já tinha procurado.

Conheces a árvore hoje?

- Não - disse o conselheiro, olhando em roda, como à procura de algum pequeno arbusto.

- Olha que há quarenta anos; a planta é hoje árvore. É esta a que me encosto.

O conselheiro levantou então os olhos para os ramos vigorosos da árvore, como se lhe parecesse impossível ter sido removida para ali por suas mãos.

- É singular como os anos correm, e as árvores crescem depressa - disse ele, distraidamente.

- Depois da nossa tarefa, sentámo-nos - prosseguiu o ervanário.

- Tu ficaste, exactamente como estás agora, à beira deste tanque.

Então, lembra-me bem, olhando para os ramos tenros desse arbusto, que ainda não sabíamos se viveria, tu disseste: «Fizemos uma obra que durará mais do que nós». E eu respondi: «Quem sabe? O machado vem, quando menos se espera».

- Como te lembras bem dessas coisas! - disse o conselheiro, sorrindo constrangidamente, porque não agourava bem do exórdio que abrira a entrevista.

- Ai, eu tenho boa memória! Houve um momento de silêncio, que Vicente interrompeu subitamente dizendo:

- Mas afinal o que te trouxe hoje aqui? O conselheiro respondeu com resolução:

- Ver-te, como disse, e ao mesmo tempo falar-te de um objecto grave.

- Sim? E comigo é que vens tratar os objectos graves?

- Porque não? Sempre foste homem de bom conselho.

- Nem sempre, Manuel, ou nem sempre pensaste assim.

- Não poderás dizer que deixasse alguma vez de te respeitar. Os nossos génios diferem, os nossos diversos hábitos de vida ensinaram-nos a pensar diversamente a respeito de muitas coisas.





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