A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 18: XVIII Pág. 276 / 508

Mestre Pertunhas barafustava por entre os da banda, berrando, ralhando, cheio de cólera e de razão.

Uma sinfonia com quatro meses de ensaios! A falar verdade! Ordenadas as coisas, rompeu, enfim, a sinfonia.

Os tipos dos artistas, marcialmente uniformizados com fardas que foram de um corpo de infantaria, eram para tentar um lápis de um Cham ou Gavarni. Ali um gordo e rubicundo merceeiro, que ameaçava estalar todas as costuras da farda, primitivamente feita para um indivíduo de metade das dimensões dele, com as faces insufladas, a testa contraída e os olhos injectados para extrair de um obsoleto serpentão, que embocava com arreganho assustador, as mais destemperadas notas; acolá um flautim, de braços compridos e tíbias esquinadas, com meio braço fora das mangas, com meia perna fora das calças, figura em que havia não sei o que de onomatopaico, também se casava com os silvos, horripilantemente agudos, que arrancava do exíguo instrumento; o artista pratilheiro era um velho recurvado, de nariz adunco, faces escavadas, olhos de coruja, suíças em tufos no meio das faces, e óculos na ponta do nariz; um zarolha evacuava os pulmões dentro de um figle; um corcovado e semianão repicava os ferrinhos com uma prodigalidade assustadora; as baquetas da caixa estavam confiadas às mãos calosas de um moço de lavoura, de repas hirsutas a cobrir-lhe a testa, olhos esbugalhados e lábio pendente. E, no meio destas e análogas figuras, a alma de tudo, o Sr. Pertunhas, torcendo-se, batendo com o pé, suando, arregalando os olhos, piscando-os, marcando o compasso com a cabeça, armada da enorme trompa, que lhe dava então não sei que aparências de proboscidiano.

Tal era a filarmónica da terra, que Henrique, o conselheiro e toda a família do Mosteiro escutavam das janelas, à qual tiveram de dispensar elogios, que o regente aceitou com a modéstia de artista que se conhece.





Os capítulos deste livro