Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 18: XVIII

Página 277
Henrique foi quem mais sublimes esforços fez para sofrer com paciência aquelas torturas acústicas. Ele que nem à orquestra de S. Carlos perdoava uma desafinação, obrigado a escutar com um sorriso aquela banda pandemónica!

- Coragem! Coragem! - murmurava-lhe o conselheiro, impassível como perfeito político. - Nas ocasiões é que os homens se conhecem! Coragem!

- É em extremo forte a provação! - respondia-lhe, gemendo, Henrique.

- Firmeza, e que a palidez do susto nos não atraiçoe - continuava aquele.

Isto obrigava Henrique a nova luta; desta vez para manter a seriedade.

Afinal calou-se a banda, sem que se pudesse dizer o que tinha querido tocar. Sucedeu-lhe um intervalo de silêncio. Passou pela assembleia o estremecimento que precede as ocasiões solenes. Os olhares de tantos espectadores fixavam-se na coberta de chita, que já se via ondular. Ouvia-se um surdo rumor, significativo de ansiedade, como se fora a resultante do palpitar de tantos corações.

Apareceu enfim a primeira personagem do auto. Era o Herodes.

A alta e membruda figura do pai de Ermelinda, com os seus ombros largos, as faces injectadas, o olhar faiscante, os cabelos e barbas negros e espessos, o andar grave e pesado, sob o qual gemiam as junturas do tablado, o timbre volumoso de voz e certo arreganho selvático, com que falava e gesticulava, imprimia na multidão um quase pavor, que nem o conhecimento íntimo que tinham do homem conseguia dissipar.

Herodes trazia manto real e turbante muçulmano, borzeguins vermelhos, corpete de veludilho azul, calções golpeados. Pendia-lhe à cinta um alfange e uma pistola; ao peito algumas condecorações.

Aparência geral, a dos profetas nas procissões.

O auto rompe com um monólogo de Herodes.

O tirano da Judeia, sobressaltado e meditabundo, faz considerações substanciosas sobre a condição dos reis em geral e a sua em particular.

<< Página Anterior

pág. 277 (Capítulo 18)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 277

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506