A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 20: XX Pág. 320 / 508

Ermelinda, sempre com os olhos fechados, começou a tremer convulsivamente e numa ansiedade extrema.

- Deixe a pequena! - disse a beata. - Não vê que lhe faz medo? E com razão, pobre criança! Depois do que viu!

- Pois eu hei-de fazer medo a minha filha? - repetiu timidamente o pai. - Eu?! Ó Ermelinda... pois tu... Um estremecimento, que correu pelos membros da rapariga, fê-lo calar. Comovido, consternado, passou-a para os braços da velha, e sentou-se a soluçar como uma criança, dizendo entre gemidos: Perdi o amor de minha filha! Perdi o amor de minha filha! Ai que desgraçado que eu sou!... A cena era bastante comovente, para que se não sentissem impressionadas todas as pessoas que ela atraíra ali.

Houve um longo silêncio, só interrompido pelos roucos soluços do infeliz, em quem entrara o desespero no coração.

Este silêncio permitiu ouvir-se um vago som, como de música longínqua, que, a pouco e pouco, se percebeu ser um coro de vozes femininas; cedo a toada, e depois da toada a letra, principiou a tornar- se distinta.

Ouviram-se perfeitamente estas palavras: Vinde, vinde, ó missionários, Com a palavra de Deus, Libertar-nos do pecado, Encaminhar-nos aos céus.

O Cancela ergueu a cabeça e pôs-se a escutar.

As vozes continuaram: Minha alma por vós anseia, Ó ministros do Senhor! E o meu peito em chamas arde, Em chamas do vosso amor.

O Cancela principiou a abanar a cabeça, e os olhos a animarem-se-lhe de um fulgor estranho.

O coro soava cada vez mais perto, e dentro em pouco desembocou na rua, em que se passavam estas cenas, um singular cortejo.

O missionário, que nós já conhecemos por o termos visto em pleno exercício de suas funções predicatórias, vinha seguido por uma coorte de mulheres, de roupas escuras





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