A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 21: XXI Pág. 333 / 508

Era uma carta toda de homem político, que tudo espera da diplomacia.

Ao acabar de a ler, Augusto disse, com um sorriso amargo nos lábios:

- Eu sou pouco ambicioso; contento-me com morrer aqui.

- A mim me deu ele, ao partir, a sua palavra em que te faria despachar, e breve, e quebrou-a como um perro! Oh! o que fizeram daquele homem!

- Quê?! Pois é possível? - perguntou, exagerando a sua consternação e espanto, o oficioso Pertunhas. - É possível que o Sr. Augusto não fosse despachado?!

E, dizendo isto, passou a desfiar uma série de consolações, qual delas mais tola e sem cabimento.

Até que, enfim, tendo já novidades para contar, e almejando comunicá-las aos frequentadores da taberna do Canada, onde devia estar reunida grande e luzida assembleia, o Pertunhas saiu, a pretexto de não ser mais tempo incómodo, e deixou-os outra vez sós.

- Estão-me guardados para o fim da vida todos os desenganos! todas as amarguras! todos os desesperos!... - disse o ervanário momentos depois. - É para se odiar o Mundo e os homens, ver um, que conhecemos generoso e inocente, contaminado também!... Pobre Augusto! Não basta que sejam modestos os teus desejos... nem assim tos deixam realizar.

Guardados alguns momentos de silêncio, continuou, com amargo sarcasmo:

- Porque não te fazes político? Porque não vais também para a taberna do Canada dizer tolices sobre a governança do país? Talvez levasses contigo alguns tolos, e tinhas nisso uma recomendação poderosa. Olha para aquele basbaque do morgado das Perdizes... Aí tens um influente... Imita-o... Mas diz: o que tencionas fazer?

- Ficar - respondeu Augusto, com firmeza.

O ervanário fixou-o com um olhar penetrante.

- Ainda?... Mas... não te vai ser suave agora a vida, rapaz.





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