A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 3: III Pág. 36 / 508

E, vestindo-se à pressa, e sem sentir a necessidade de uma escrupulosa toilette, saiu do quarto.

Encontrou nos corredores a tia Doroteia, que o saudou amavelmente.

- Muito bons dias, menino; então como passaste tu a noite?

- Deliciosamente, minha querida tia - respondeu ele abraçando- a com maior afecto e bom humor do que na véspera.

O que é sentir-se a gente bem!

- Então não estranhaste?

- Estranhei imenso!

- Sim! - disse a tia, mortificada.

- Dormi a noite de um sono, e acordei bem disposto; o que para mim é a mais estranha das ocorrências.

A tia sorriu satisfeita.

- Pois antes assim. E agora...

- E agora quero sair, quero ver esta terra, que me está parecendo um paraíso terreal.

- Espera, menino. Não vás sem almoçar.

- Almoçar! Pois que horas são?

- Não é cedo; são já sete horas.

- Já sete horas! E Henrique insensivelmente desviou os olhos para a janela, para ver como era a natureza, a uma hora a que raras vezes a examinava.

- E então acha que se pode almoçar às sete horas?

- Porque não? Se já está pronto.

- Bom; almocemos. O doutor disse-me que tomasse os hábitos da aldeia. Principiemos por este.

Entrando para a sala de jantar, Henrique viu diante de si uma taça de leite espumante, tépido, odorífero, extraído de pouco tempo.

Foi por ele que principiou o almoço.

Pela primeira vez na sua vida disse ele ter bebido o leite verdadeiro, o leite que não faz mentir a análise dos químicos, de que os fisiologistas exaltam as qualidades nutritivas, de que os poetas das geórgicas cantam as delícias e virtudes; só agora os compreendeu ele, que bem diferente daquilo era o aguado e quantas vezes derrancado soro, a que estava habituado na cidade.

D. Doroteia, almoçando, e Maria de Jesus, servindo, falaram, segundo o costume, continuamente.





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