A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 26: XXVI Pág. 401 / 508

Vitória, serviço que ela própria adiava com este importuno sermão.

A entrada da Morgadinha operou uma diversão. D. Vitória esqueceu-se do criado, o qual pôde retirar-se sem ser percebido e sem receber as ordens urgentes para que fora chamado.

D. Vitória principiou a contar a Madalena o sucedido, conforme ela própria o soubera do moço do carro em que viera Henrique.

- Andam desaforados - concluiu ela. - Já nem atendem a uma pessoa de respeito. É porque não há justiça nesta terra. Estão para aí uns patetas de umas autoridades que são outros que tais. Era preciso um exemplo. Aí está quando eu, se fosse rei, não tinha pena nenhuma: havia de os esquartejar e era bem feito!

Cumpre dizer que D. Vitória não era capaz de bater num gato.

A Morgadinha contou também rapidamente o que sucedera no cemitério.

Então é que trasbordou a indignação da tia.

- Tu que dizes, menina?... Tu estás a falar sério?... Pois eles?... Em nome do Padre... Que mais teremos ainda de ver?... Ó meu Deus!... E esses malvados estão ainda na rua?... Deixa que teu pai há-de ainda saber... Não, isso não fica assim... Daqui a pouco põem-nos o pé no pescoço. Nada, nada; para os malvados é que se fizeram as forcas... Ora deixa que... Isto aqui anda trama.

- Não falemos mais nisso. Agora vou ver o estado do ferido.

- Vai, e vê se encontras por aí alguns criados. Eu não sei onde eles se meteram. Há-de ser preciso ir à botica, e muitas mais coisas, e não vejo nenhum! Madalena deixou sua tia a tocar outra vez a campainha.

Encontrou-se na sala imediata com Cristina, que ia em direcção ao quarto de Henrique, com um copo de água acidulada.

- Que há, Criste? - perguntou-lhe Madalena.

- Que há-de haver, Lena? - respondeu Cristina com tristeza, mas com serenidade ao mesmo tempo - uma desgraça, mas que Deus há-de permitir que não seja sem remédio.





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