A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 27: XXVII Pág. 414 / 508

Era o velho Torcato que vinha saber dele, de mando de D. Vitória e das meninas.

O pobre homem era um dos que ficara com afeição a Henrique depois que este estivera no Mosteiro.

Henrique ouvia-o com uma paciência, que ele já em poucos encontrava, contar as longas histórias dos seus tempos passados, e isso era o bastante para o velho lhe querer bem.

- Diga às senhoras que eu mesmo irei ralhar com elas, pelo incómodo que estão tendo comigo. E você também, Torcato, na sua idade, estes passeios...

- Ai, não tem dúvida... Isto faz bem... É exercício afinal... Pois é verdade. Eu dantes corria a aldeia toda num minuto... agora... Olhe que eu já tenho os meus anos! Veja lá, se no tempo dos Franceses eu era já homem feito... Inda me lembra...

Seguiu-se um episódio da época, e depois, sem transição sensível:

- Mas lá enquanto às senhoras... Isso sempre devo dizer que têm tomado um cuidado!... Todas!... Até a Cristininha!...

- Sim?! Também essa?

- Ora se também! ... Pois a Sr.ª D. Vitória?

- Mas... mas... Cristina... a Sr.ª D. Cristina, então...

- Isso é um coração de pomba. Inda há pouco, ao sair, já vinha no pátio, e ela veio ter comigo a correr, e disse-me: «Olhe, ó Torcato, há-de reparar-lhe para a cara e ver se tem ar triste».

- Ela disse-lhe isso?

- É verdade. Eu, eu lá lhe vou dizer que o encontrei alegre como...

- Não, não; não lhe diga isso, homem - atalhou Henrique.

- Então porquê?

- Porque... porque... porque não é verdade... Então eu estou assim tão alegre como isso?

- Não digo que esteja, mas para a sossegar...

- Diga que me achou com saúde, mas triste. E não lhe disse ela mais nada?

- A Sr.ª D. Vitória...

- Falo de Cristina.

- Nada... Ai... Agora me lembra... Mas isso é segredo.





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