A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 421 / 508

- Estou curado disso.

- Estará? Eu sei!... É certo que já é bom sinal admitir que era doença.

- Dou pelo seu diagnóstico, prima, e até pelo tratamento que me aconselhou em tempo; falou-me na vida campestre, no interesse pelos negócios locais... e sobretudo em uma paixão sincera.

- Ah! E experimentou a receita?

- Experimentei e curei-me.

- Ou tomou por forças de saúde o que era apenas o falso vigor da convalescença? Convém não abusar; ouço dizer aos médicos que são perigosas as recaídas.

- Pois teme que eu recaia?

- Porque não? Esta sua vinda aos Canaviais a horas mortas... conquanto motivada por louváveis intenções... tem ainda assim uma certa feição romântica... que era bom vigiar... Sempre vim para acudir a algum acidente.

- É um perfeito médico da época; não tem fé na eficácia dos remédios que prescreve.

- Tenho; mas não desacompanho a acção deles, isso não. Agora fale-me com franqueza: ao recordar-se de certas ideias com que veio de Lisboa não se lhe figuram algumas estranhas e inaceitáveis já?

- Confesso que algumas...

- E compreende agora o que eu lhe dizia? O remédio para o mal do coração, que o minava, tinha-o ao seu lado, desde o primeiro dia que pusera os pés no Mosteiro, e teimava em ser cego para o não ver.

- Desde o primeiro dia? Pois Cristina...

- Cristina deixou de ser criança desde aquele dia.

- Querido anjo!

- Querido anjo?... Diz bem; deve adorá-la; tal como ela é, ingénua, tímida, supersticiosa até, se quiser; mas bondosa, mas adorável, mas uma índole talhada para acalmar as paixões, demasiado violentas, de um carácter como o seu; para lhe fazer ter mais esperança na vida, mais coragem e mais fé no futuro.

Henrique, depois de instantes de silêncio, disse, sorrindo,





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