A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 433 / 508

Henrique?

- É apenas uma restituição que peço, Sr. Conselheiro, porque não me posso resignar a viver sem coração.

- Faz madrigal? Está então apaixonado deveras, já vejo - disse o conselheiro. - Pela minha parte folgo de o ver assim associado à minha família, por tão bom caminho. Mas onde está a taumaturga que fez o milagre de converter este celibatário emérito, que eu conheci em Lisboa a rir-se do casamento?

- Por piedade, não me recorde esses pecados diante da prima Madalena, que é tão rigorosa nos castigos!

- Diga antes que sou tão excessiva nas recompensas.

- Mas o mano tem razão - disse D. Vitória. - Onde está a Criste? Admira-me não a ver aqui!

- Admirar, não me admiro eu - tornou o conselheiro. - É provável que soubesse do que se tratava, e eclipsou-se discretamente.

Porque isto foi decerto discutido por as partes interessadas, antes de subir ao nosso tribunal.

Henrique e Madalena sorriam.

- Ora se foi! E parece-me que tu, Lena, fizeste desta vez de S. Gonçalo. Deus queira que te não queimes ainda no fogo ao ateares destes fachos.

- Eu vou buscar a Criste - disse a Morgadinha, rindo das palavras do pai, e saiu da sala como para evitar que a conversa seguisse a direcção que ele lhe deu.

O conselheiro voltou neste intervalo a consultar papéis e cartas, enquanto D. Vitória falava com Henrique, e D. Doroteia tentava distrair Ângelo, contando-lhe várias histórias de crianças, que ele mal escutava, e que ela tinha a candura de julgar alimento acomodado à inteligência dele.

Passados momentos, voltava Madalena, trazendo Cristina consigo, a qual já vinha com o rubor nas faces e com os olhos no chão.

- Aqui está a acusada - disse a Morgadinha ao entrar.

O conselheiro tornou a guardar os papéis e disse jovialmente para a sobrinha:

- Ora venha cá, venha cá, que temos muito que falar.





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