A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 436 / 508

O conselheiro olhou para Henrique, dizendo:

- Lembra-se do que eu lhe disse na noite do Natal a respeito deste traçado e dos pedidos do Brasileiro para ele se adoptar? Admire agora o velhaco.

Henrique sorriu, encolhendo os ombros.

- Arremedos do que se faz em terras maiores - disse ele. - Não estranho.

- E tem razão - respondeu o conselheiro.

- Mas, afinal - continuou o conselheiro - o homem não tinha na freguesia grande influência. Como é que...?

- Tem-se popularizado ultimamente um pouco mais. Deu em franquear vinho por aí a toda a gente, e depois os padres estão bem com ele e de mal com V. Ex.ª.

- Mas como se lhe desenfreou tão de repente esse ódio contra mim? Deixámo-nos em Janeiro nas melhores disposições um para com o outro...

- Pelos modos não sei que aí se falou de uma carta do ministro ou ao ministro... - disse o Tapadas, com maneiras de quem não dera grande importância ao objecto a que se referia.

O conselheiro mudou logo de assunto.

- E os padres? Os padres? Que heresia disse eu, que pecado grande cometi, para me terem esse ódio?

- Dizem que V. Ex.ª é mação - respondeu um lavrador.

- O diacho da questão do cemitério... - acudiu o Tapadas.

- Isso acalmou já.

- Não acalmou, não senhor. O povo não está contente. É certo que lhe passou a fúria do princípio, depois daquela história com o Cancela, mas...

- Quando me lembro de que aquela canalha se atreveu a insultar minha filha!

- É melhor não falar nisso - aconselhou prudentemente o Tapadas. - O que lá vai, lá vai. Os homens estão meio arrependidos, e até o missionário perdeu um pouco entre o povo, porque o Herodes tem por aí berrado que foi ele quem lhe matou a filha, e o pobre homem mete pena. Até me dizem que por causa disso o padre já se retirou da aldeia.





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