A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 29: XXX Pág. 443 / 508

Logo pela manhã do domingo marcado para a solenidade civil, o adro da igreja paroquial apresentava uma animação fora do costume.

Grupos formados aqui e ali conferenciavam, entreolhando-se com desconfiança, ou correspondendo-se por sinais de inteligência, conforme pertenciam à mesma ou a oposta parcialidade. Os agentes eleitorais, os influentes dos dois campos acercavam-se deste, apertavam a mão àquele, segredavam com um, batiam no ombro a outro, discutiam com um terceiro, e, sempre que era possível, distribuíam listas ao maior número.

O Brasileiro era a alma do partido governamental. O Tapadas capitaneava a falange do conselheiro. Pertunhas falava com todos, esfregando as mãos e sorrindo. O regedor passeava com importância por entre os grupos, recomendava ordem e respeito às autoridades, e dava de olho aos cabos, seus subordinados, para que se não esquecessem de cumprir as instruções recebidas, votando no candidato ministerial.

Aproximava-se a hora, e principiavam os trabalhos para a constituição da mesa. O pároco, o administrador e o regedor foram ocupar o seu lugar. Ficou presidente o Brasileiro, e o resto da mesa formou-se dentre as duas parcialidades.

Enquanto se organizavam assim os trabalhos, eram discutidas no adro as probabilidades da vitória.

Num dos grupos formados, junto da porta da igreja, por os partidários do Brasileiro, dizia-se:

- Vencemos por uma maioria de mais de duzentos votos; verão!

- Só a freguesia de Pinchões enche-nos aí a urna.

- E estará bem seguro o morgado?

- O Sr. Joãozinho? Ora! Está de ferro e fogo contra o conselheiro.

- Pois se te parece! Depois daqueles mimos que lhe fizeram na taberna e do que dele se tem dito no Mosteiro!...

- Não é só por isso. Ele já estava do nosso lado, desde que soube que tinham deitado abaixo a casa do ervanário, e que o pobre do homem estava sucumbido de todo.





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