A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 29: XXX Pág. 446 / 508

Mas querem vocês saber uma coisa engraçada?... Pareceu-me que o Augustito do doutor não gostou da novidade.

- Não?... Então porquê?!

- Vi-o fazer-se de mil cores quando a ouviu... Pois ter-se-lhe-ia metido na cabeça?... Hem?!

- Tinha graça. Mas olha o milagre!...

- Ah! ah!... Este mundo é muito divertido! Nisto saiu a correr da igreja um influente político, e principiou a olhar para todos os lados, como procurando alguém.

- Que temos nós lá, ó Sr. Luís? - perguntou-lhe o Pertunhas.

- Onde diabo estão os de Pinchões? - perguntou o interpelado.

- Inda não vieram.

- Diabos os levem! Vai-se principiar a chamada, e eles não aparecem. O morgado é homem para se esquecer a catar os cães.

- Mas vamos nós principiando, e no entanto eles virão - disse o Pertunhas, que fora nomeado para revezador do secretário da mesa.

- Mas a primeira freguesia que vota é justamente a dele. O Sr. Seabra está como uma bicha! E, dizendo isto, o homem voltou para dentro.

A mesa eleitoral, instituída no meio da igreja, com grande escândalo do beatério, que pela voz dos padres chamava àquilo artes do demónio, ia principiar a funcionar. O conselheiro, que viera mais tarde, de propósito para não formar parte da mesa, requereu, com o relógio na mão, que se abrisse a urna, visto ser a hora marcada no edital.

Este requerimento, simples e justo como era, suscitou discussão.

O Brasileiro alegou que, sendo os de Pinchões os primeiros a votar, em virtude do artigo 62.° do decreto eleitoral, que manda votar primeiro a freguesia mais distante, e não estando na assembleia ninguém daquela freguesia, convinha esperar.

O conselheiro insistiu, dizendo que a lei não mandava esperar por os eleitores, mas apenas indicava a ordem da chamada e que, portanto, votassem os presentes, e que, na segunda chamada, ou nas duas horas de espera, votariam os ausentes, que depois viessem.





Os capítulos deste livro