A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 29: XXX Pág. 459 / 508

Passou-se um pouco de tempo, em que o homem se perdeu de vista. Subia naquele momento a ladeira dos sobreiros.

Os olhos fitavam-se todos no portão do pátio à espera de o ver surgir ali. Mal se respirava.

- Ei-lo - disseram instintivamente todas as vozes, quando ele apareceu.

- Viva! Sr. Conselheiro, viva! - bradou ele de lá, apesar de esfalfado.

O conselheiro teve quase uma vertigem.

- Ele que diz?... Como pode... Não o deixaram continuar as senhoras, que já o beijavam e abraçavam com frenético entusiasmo.

Madalena, a própria Madalena, cujos mais ardentes votos eram ver o pai desistir da vida política, deixava-se tomar pela febre do triunfo e celebrava-o como se nele fundasse a sua felicidade. É que, na ocasião da luta, não há ânimo tão indiferente a estímulos, que não abrace um partido; ao princípio froixamente talvez, mas a incerteza aumenta o ardor com que se esposa a causa; os gelos da indiferença fundem-se nos momentos decisivos, e a ansiedade que precede a vitória aumenta a comoção que esta produz, se se realiza.

O conselheiro queria acalmar aquelas efusões, mas em vão bradava:

- Esperem! Esperem! Deixem ouvir! Isto não pode ser... Há engano... Mas o ânimo feminino não entra facilmente na ordem, se chega alguma vez a sair dela.

Só a entrada do mensageiro na sala é que serenou o tumulto.

O conselheiro interrogou-o.

- Então que dizes tu? Que vivas são esses?

- Digo que vencemos - respondeu o moço, usando ingenuamente o verbo na primeira pessoa do plural.

- Estás a sonhar?

- O Sr. Tapadas, o meu amo, foi quem me mandou aqui a toda a pressa para lho dizer. Quando eu saí da igreja tinha vossemecê... tinha V. S.ª mais 105 votos do que o outro, e só havia na caixa uns trinta por junto. No caminho ouvi a girândola.





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