A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 30: XXXI Pág. 468 / 508

O dia seguinte passou-o na mesma indecisão. Mas a inquietação do ervanário crescia; desassossegava-o a ideia do perigo a que supunha exposta Madalena, cuja confiança em Henrique a podia perder.

O ervanário continuava a desconfiar de Henrique.

Chegara a noite, aquela em que Torcato lhe dissera ter com uma das meninas de visitar à meia-noite, por causa de Henrique, a casa dos Canaviais. O velho não pôde mais tempo conter-se e disse a Augusto, depois de muito lutar consigo:

- Não devo calar-me. É preciso coragem, meu filho. Arranca do coração a loucura que lá tens ainda, embora o deixes em sangue, ou estás perdido.

Augusto estremeceu, olhando-o com sobressalto.

O velho prosseguiu:

- Tu vais sair para te desenganares por teus próprios olhos, e, se o que vires te não curar, se é sem remédio esse mal, ao menos sê generoso, e acode e salva, se for possível, quem, perdendo-te, se perde também.

E, após estas palavras vagas, cujo mais claro sentido Augusto tremeu de investigar, o velho mandou-o aos Canaviais, naquela mesma noite, recomendando-lhe que fosse preparado para receber uma grande dor.

Augusto seguiu as indicações do ervanário, e foi.

Era dele o vulto que fizera estremecer Madalena, quando, na noite da piedosa devoção de Cristina, a vimos chegar à janela dos Canaviais.

A Morgadinha reconhecera Augusto através das sombras nocturnas, e tivera um pressentimento do que significava a presença dele naquele lugar e naquela ocasião.

Por concentrada e discreta que fosse a paixão de Augusto, não era um mistério para Madalena.

A estranhar alguém esta penetração de vista não será, decerto, nenhuma das minhas leitoras.

Madalena adivinhara havia muito Augusto e não lhe fora difícil explicar até a instintiva hostilidade com que ele sempre acolhera Henrique.





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